segunda-feira, 28 de junho de 2010

1ª postagem

Olá, sejam bem vindos ao meu blog.
Minha intenção com esse blog é transmitir tudo aquilo que me é ensinado em sala de aula para todos vocês e dizer que independentemente de quem seja, qualquer um pode cozinhar.
Com amor tudo se consegue e com um pouco de paciência todos podemos aprender.
Aqui vocês irão encontrar artigos interessantes, receitas, dicas e truques culinários, dicas de site e canais de TV referentes à culinária e muito mais.
Como primeira postagem, decidi compartilhar um texto que me foi passado na faculdade e achei muito interessante, um artigo de Ricardo Freire, sobre cardápio e que no fundo não deixa de ser a mais pura verdade do que acontece nos restaurantes quando estamos lendo um cardápio.
Vamos lá?
Boa leitura e obrigada pela sua visita, estou aberta à críticas, sugestões e até mesmo opiniões, pedidos e perguntas.



Decifra-me ou não me devoras (por Ricardo Freire)

Um bom cardápio contém tudo o que você espera de uma boa leitura. Romance. Mistério. Reviravoltas abruptas de enredo. Passagens picante. Finais adocicados. Você começa a ler e quando se dá conta já está na última página.
Sabe uma coisa que eu detesto? Eu detesto quando chega o maître e começa a recitar as recomendações do dia. Não é educado puxar conversa com uma pessoa que está absorta num texto interessante. Naquele momento eu e o cardápio estamos nos conhecendo. Deixe-nos a sós por alguns instantes, por favor.
Trata-se de um jogo de sedução. Você abre o cardápio e ele começa a dizer coisas bonitas para te conquistar. alguns já começam com cantadas clássicas e infalíveis. Quando um cardápio segura na sua mão e diz "Bruschetta!", não há como resistir.
Nesse momento, eu só usaria o maître como dicionário. Por favor: o que quer dizer "salteado"? Ah - é o que antigamente se dizia "sauté"? Que interessante! Agora com licença, que eu preciso continuar a ler o cardápio.
Eu tampouco pediria detalhes muito técnicos. Não quero saber se o pobre do peito de frango foi marinado numa infusão de ervas, para só então ser desossado e levado ao forno antes que o desfiassem. Eu estou ali para comer, não para aprender a receita. Se a Juliana Paes contasse tudo o que faz para ficar daquele jeito, você também perderia o apetite.
Na dúvida entre dois pratos, o melhor é consultar quem está com você na mesa. Diga o nome dos pratos de maneira bem blasé. Em seguida, desconsidere a resposta. Peça o prato que você perceba que causará mais inveja a quem você perguntou.
Sim. Você nunca pede um prato no restaurante apenas para se dar prazer. Você escolhe um prato, na verdade, para causar ciúme. Você quer mostrar à pessoa amada que a qualquer momento ela pode ser trocada por um suflê. Você quer provar para seus amigos e colegas de trabalho que pode sair com coisas bem mais gostosas do que eles.
É por isso que os cardápios são escritos com técnicas que parecem tiradas de anúncios classificados pessoais. Filé alto, corado e apimentado procura pessoas interessadas num relacionamento quente, envolvendo um pouco de sangue e muito gratin dauphinois. Uau!
Algumas palavras em francês são fundamentais. Francês é o idioma ancestral dos cardápios - e é justamente o que proporciona uma certa conotação erótica aos pratos. "Gratin dauphinois", por exemplo, não significa só batatas fatiadas e gratinadas - significa também espelho no teto. "Sauté", por sua vez, significa cama redonda. (Já "salteado" significa apenas passado na manteiga).
Assim como acontece com os livros, alguns cardápios começam muito bem, mas não conseguem manter o nível depois. Nesse caso, é melhor se contentar com os personagens do capítulo de entradas, e se desinteressar pelo epílogo.
O interessante da leitura de cardápios é que você pode ir direto para o desfecho, sem estragar seu prazer pela história. Quanta gente não espia primeiro a sobremesa e passa o jantar inteiro suspirando por antecipação?
Ler cardápios só não é um prazer quando o cardápio é... mal escrito. Eu perco a fome quando um cardápio chama legumes de "vegetais". Não consigo comer lasanhas com "z". E, acima de tudo, passo ao largo de qualquer sobremesa em que o coco venha acentuado"

Ricardo Freire
Época 14 de março, 2005